Tuesday, January 16, 2007

O "carro de Jagrená" feminista

Para explicar a imprevisibilidade do fenômeno chamado "modernidade", o sociólogo inglês Anthony Giddens usa a metáfora do "carro de Jagrená". Segundo o autor, o mundo de hoje seria bastante diferente do imaginado pelos pensadores iluministas. Um mundo "descontrolado", que lança a humanidade para uma era de incertezas e dúvidas, como um carro desgovernado na qual todos nós, passageiros assustados, não podemos antecipar o destino. Transformam-se as relações sociais, pessoais ou profissionais, com a velocidade dos meios de transporte e tecnologia. Transformam-se, também, as relações de gêneros, em ambiente público e privado, mesmo que o desgovernado carro da modernidade sinta o atrito do solo machista, que tenta impedi-lo de seguir em frete para manter estável uma ordem que, como tudo na vida, está sendo ultrapassado pelo tempo. Assim compreendo o movimento feminista, em suas múltiplas correntes. Ao denunciar os abusos patriarcais, lançou todos nós, homens e mulheres, numa estrada de transformações que, a despeito das perseguições e discriminações, avança indefinidamente rumo ao desconhecido. O objetivo era a igualdade, como não poderia ser diferente, mas, desgovernado, poucos se arriscam a prever onde o carro de jagrená feminista vai parar. À medida que a igualdade avançava, a mulher superou facilmente o homem em todos os setores em que puderam competir. O opressor, antes tão cruel, agora tira a máscara e, como a fragilidade de uma criança, se acha perdido em confuso, buscando um novo papel. As dúvidas sobre este novo papel masculino, dolorosa tarefa para quem tem o machismo arraigado na mente, tem como resposta muitas vezes o recrudescimento da violência. Pobre homem perdido diante das transformações do mundo! Mais do que nunca, faz-se necessário libertar-se não apenas das antigas relações de poder, mas também do manto iluminista igualitário, que muitas vezes não deixam discutir as diferenças de forma construtiva. É o respeito por estas diferenças, em vários aspectos, que pode guardar as chaves para o futuro. somos livres para pensar e refletir. Homens e mulheres são diferentes, isto ninguém questiona, o problema é até onde vai estas diferenças. Falar em "superioridade da mulher", a princípio, pode contrariar os fundamentos do próprio feminismo. É compreensível. No entanto, pode ser também uma forma de, respeitando as diferenças, sem opressão ou ódio, construir uma sociedade mais humana, justa, fraterna, que respeite e conviva em harmonia com a natureza, guiada pelos princípios femininos. Restaurar a feminilidade do mundo, procurando, na medida do possível, conduzir o carro de jagrená feminista rumo a uma sociedade matriarcal, é mais que um sonho. É uma aposta em um ideal de vida.

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