Tuesday, December 08, 2009

A maravilha e a responsabilidade de ser mulher

Quem é mais inteligente: o homem ou a mulher? Esta pergunta acompanha a humanidade durante milênios, embora, em outras épocas históricas, a resposta pareceria um tanto quanto óbvia: logicamente, os homens seriam mais inteligentes, bastaria ver o papel predominante que o macho exercia na sociedade para chegar a esta conclusão. Até hoje, alguns machistas insistem em levantar a seu favor um argumento aparentemente irrefutável: se os grandes filósofos, artistas, cientistas e outros seres humanos de destaque ao longo dos séculos anteriores foram quase todos homens, é porque o homem, logicamente, seria mais inteligente.

Tudo isso seria realmente lógico se, neste argumento aparentemente irrefutável, não existisse um único problema: não existia igualdade de oportunidade entre homens e mulheres. Ora, se historicamente as mulheres foram trancafiadas ao espaço privado de suas casas, enquanto os homens militavam na vida pública, é obvio que a liderança da sociedade, salvo em raras e honrosas exceções, estivesse nas mãos de homens. Da mesma forma, se as mulheres não recebiam estudo adequado e sequer podiam trabalhar fora de casa, é perfeitamente normal que todos os grandes filósofos, cientistas, artistas e outras tantas profissões de destaque tenham sido, ao longo da história, ocupado quase exclusivamente por homens.

O argumento histórico, portanto, não explica nada. Os dados dos últimos 100 anos, quando, progressivamente, as mulheres passaram a ter mais direitos e igualdade, embora ainda não completamente, de oportunidades, revela um horizonte bem mais justo para se avaliar esta questão. No entanto, antes de tudo, é preciso considerar que princípio iluminista de que “todos os homens são iguais” ainda está muito vivo entre nós. Falar de diferenças inatas assusta, principalmente depois que os horrores da segunda guerra passou a ser um fantasma que deve a qualquer custo ser evitado. Os seres humanos são iguais sim, mas em termos de direitos e oportunidades. Ora, ninguém questiona que homens e são mulheres são diferentes em muitas coisas: altura, peso, massa muscular, órgãos genitais, órgãos internos. Logo, homens e mulheres são, inevitavelmente, diferentes. Se há, portanto, diferenças em vários aspectos, por que é preciso considerar que, em relação ao cérebro e a capacidade cerebral, homens e mulheres são iguais?

Vemos esta diferença historicamente em qualquer escola primária, constatando a maior capacidade de concentração e cognição das meninas em relação aos meninos. Hoje, com o advento da igualdade de oportunidade, as mulheres também passaram a dominar as universidades, nos mais diversos cursos. Nos Estados Unidos, algumas universidades, informalmente, resolveram criar uma espécie de “cota para homens”, pois, cada vez mais femininas, os centros universitários estavam se tornando cada vez menos atrativos para os rapazes, mesmo para aqueles que possuem condições de freqüentá-los. Tal medida, evidentemente, provocou a compreensiva ira das feministas. Por outro lado, alguns grupos norte-americanos defendem que as escolas sejam divididas por gêneros. Segundo eles, uma classe apenas de meninas possibilitaria explorar melhor as potencialidades femininas, o que, normalmente, não é possível devido às limitações de muitos meninos.

Apesar destes e outros exemplos, a própria ciência, durante muito tempo, não considerou as diferenças entre a capacidade cerebral de homens e mulheres. A explicação é bem simples: como as cobaias eram os corpos de soldados desconhecidos mortos em campos de batalha, eles eram, naturalmente, apenas homens. Apenas o avanço dos anos e da ciência permitiu, a partir do mapeamento computadorizado que possibilitava ver o cérebro trabalhando "ao Vivo”, a compreensão de que o cérebro de homens e mulheres eram constituídos e agiam de forma diferenciada. As principais diferenças são:

- O cérebro masculino é maior em volume, o que, considerando que o corpo do homem é também maior, é uma conseqüência natural.

- a maioria dos estudos afirma que, por ser maior em volume, o cérebro masculino teria como conseqüência mais neurônios. Entretanto, alguns estudos mais modernos contestam este resultado, alegando que, apesar de mais volumoso, isso não significaria mais neurônios. Segundo estes mesmos estudos, as mulheres teriam, apesar de um volume menor, mais neurônios que os homens. Hoje, todos concordam também que ter um cérebro mais volumoso não significa maior capacidade cerebral, pois, se fosse assim, outros animais e até o próprio homem primitivo possuiriam mais inteligência que o homem moderno.

- Se existe uma certa polêmica em relação à quantidade de neurônios, todos concordam, entretanto, que as mulheres possuem bem mais sinapses, isto é, o corpo caloso que faz ligações entre as duas partes do cérebro é mais desenvolvido nelas (cerca de 30%). Como conseqüência, enquanto a atividade cerebral masculina fica concentrada em um dos lados do cérebro, as mulheres, por sua vez, conseguem usar os dois hemisférios de forma bem mais eficiente. Um dos motivos para isso é o estrogênio, o hormônio feminino, que estimula as células nervosas a realizarem novas conexões entre os dois hemisférios. É por este motivo que os homens “fazem uma coisa de cada vez”, precisam se concentrar em apenas uma atividade, enquanto a mulher consegue fazer várias coisas ao mesmo tempo, ou seja, é múltipla.

- O cérebro da mulher também está mais capacitado para perceber sensações e emoções, captando mensagens não apenas pela fala, mas por gestos e expressões faciais. Talvez este seja o segredo da famosa “intuição feminina”, ou seja, a capacidade de captar as coisas no ar. Portanto, a intuição feminina pode não ser apenas um mito, mas algo perfeitamente explicado pela maior percepção das mulheres ao mundo que está ao seu redor. Em outras palavras, elas não advinham, mas lêem nas entrelinhas.

- O cérebro feminino também é mais desenvolvido em áreas como a fala e a memória, enquanto os homens possuem uma percepção espacial mais apurada. Segundo alguns antropólogos, isso se deve aos nossos ancestrais, que se dividiam nas tarefas de caçar e cuidar das crianças. Com isso, homens possuem mais facilidade para ler mapas, enquanto as mulheres são mais comunicativas.

- A área primitiva do cérebro também é mais desenvolvida nos homens, ou, visto de outra forma, o cérebro masculino preserva mais intacta as áreas primitivas que nos ligam aos nossos ancestrais. Como conseqüência, o homem é mais violento, mais dependente dos impulsos sexuais e outras características típicas da maioria dos animais, uma vez que esta parte do cérebro do macho humano evoluiu pouco em relação aos répteis, por exemplos.

Segundo Allan e Barbara Pease, no bem humorado livro “os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor”, estas diferentes fariam da mulher, em média, cerca de 3% mais inteligentes que os homens. Embora não tenha pretensão de ser uma obra feminista, mais sim um bem-humorado relato sobre as diferenças entre os gêneros para ajudar na convivência entre eles, o livro inevitavelmente acaba exaltando as virtudes femininas, tratando com bom humor as dificuldades puramente masculinas. Embora 3% possa não parecer muita coisa, o casal inverte a lógica até então predominante, ajudando a explicar porque, em média, as mulheres levam vantagem sempre que disputam em igualdade de condições com os homens.

Seguindo pelo mesmo caminho, José Abrantes, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), analisou 137 mil notas tiradas durante um semestre por 22 mil alunos da instituição privada Centro Universitário Augusto Motta (Unisuam). A partir deste estudo, o pesquisador concluiu que as notas femininas foram 3% superiores às masculinas. Refutando a antiga lógica do QI, que, segundo ele, favorecia os tipos de inteligência mais desenvolvida entre os homens, Abrantes utiliza o conceito de inteligências múltiplas, do neurologista americano Howard Gardner. Por este método, chega a conclusão que os homens seriam melhores em 3 dos 12 tipos de inteligência. As mulheres, nos outros 9.

O estudo, publicado no livro “Por que as mulheres são mais inteligentes que os homens?”, revelou o seguinte resultado:

Os homens seriam mais hábeis usando a inteligências matemática-lógica, a visoespacial e a cinestésico-corporal. Com isso, os homens demonstram maior compreensão matemática, capacidade para entender mapas e se localizar no espaço. Também se saem melhor na inteligência corporal e nas atividades que exigem força.

Em relação às mulheres, o estudo concluiu que as mulheres possuem mais capacidade nas inteligências pictórica, ultrapessoal, interpessoal, naturalista, existencial, musical, social, linguística e emocional. As mulheres também demonstram mais facilidade para se expressar pela fala, maior entendimento sobre questões filosóficas, habilidades para desenhar, para a música e para usar os conhecimentos no meio ambiente. Além disso, elas também se saem melhor na inteligência emocional, autoconhecimento e capacidade de se relacionar com os outros, equilibrando com mais eficiência a competição e a qualidade de vida.

Embora muitos ainda entendam isso como um tabu, a verdade é que ambos os estudos, realizandos sobre diferentes aspectos, ou seja, enfocando a análise cerebral em funcionamento ou o desempenho de homens e mulheres em uma universidade, chegam à mesma conclusão irrefutável: as mulheres são mais inteligentes que os homens. Vencendo os antigos preconceitos, a ciência encontra aquilo que o senso comum já havia percebido há muito tempo. A questão é: como isso pode influenciar a vida moderna?

Um bom exemplo pode ser percebido com a dificuldade inata que o homem tem para realizar mais de uma coisa ao mesmo tempo. O fato das mulheres realizarem várias coisas ao mesmo tempo, enquanto os homens se atrapalham se não ficarem concentrados apenas em uma, pode ser considerado (e de fato é) apenas uma diferença. Algumas meninas, cientes desta diferença, costumam brincar colocando seus namorados em situações difíceis, colocando-os confusos e perdidos. No entanto, mais importante que diferenças que geram brincadeiras domésticas e piadas, está a forma como isso influencia no mundo de hoje. Em uma grande empresa, por exemplo, quem é mais útil no mercado de trabalho, alguém que faz várias coisas ao mesmo tempo ou, ao contrário, apenas uma em silêncio? Este ângulo da questão nos permite compreender que, na prática, esta diferença é também uma limitação para o homem moderno, colocando-o, e o mercado de trabalho já mostra isso, alguns passos atrás das mulheres.

Os novos estudos revelam que a própria capacidade de entender uma simples metáfora, por exemplo, é mais desenvolvida nas mulheres, pois os homens teriam mais dificuldade de raciocinar sobre coisas abstratas, interpretando tudo de forma muito literal. Voltando a sala de aula primária, em que a diferença de maturidade entre meninos e meninas é um incremento a mais, esta maior capacidade de pensar de forma abstrata ajuda a revelar a diferença de desempenho e aproveitamento. Na prática, existem coisas que as mulheres acham normal e que os homens simplesmente não compreendem.

Diante disso, como fica o homem no mundo de hoje? Este ser que se impôs pela força, moldou o mundo à sua forma, que durante séculos comandou a humanidade, está diante de uma redefinição do seu papel no mundo. É compreensível que o homem tenha receio de olhar para sua mãe, irmã, esposa ou alguma mulher do seu círculo de amizade e admitir que é menos inteligente, ou capacitado para algumas atividades. Todavia, isso parece ser inevitável. Em primeiro lugar, verdades existem para serem ditas, doa a quem doer. A ciência sempre existiu para isso. Em segundo lugar, é exatamente revelando sua fragilidade que os homens podem reencontrar seu lugar no mundo moderno. O importante não é esconder estas diferenças, mas, de fato, respeitá-las. O respeito às diferenças entre homens e mulheres deve sempre acompanhar o reconhecimento das virtudes e potencialidades de cada um.

Se era isso que motivava a antiga guerra dos sexos, hoje sabe-se que elas venceram, por mais que o doa ao orgulho machista admitir. A questão principal é: como esta constatação pode ser usada para benefício da sociedade? Ora, se a mulher é mais capacitada para tratar dos temas sociais e tem maior compreensão sobre as questões filosóficas, por exemplo, a tarefa é explorar esta potencialidade de forma produtiva. Para as meninas de hoje, o futuro será um tempo em que será experimentada a maravilha e a responsabilidade de ser mulher, cumprindo o projeto da natureza, desvirtuado pelo patriarcado, de pensar, refletir e gerir a sociedade.

Uma última indagação deve ser feita sobre o papel do homem. O fato de ser menos inteligente não pode desacreditá-lo para o futuro. Embora suas atribuições sociais tendam a diminuir, sua importância para executar e por em prática um futuro melhor é inquestionável. Caberá as mulheres, senhoras dos tempos modernos, decidir qual papel o homem terá nesta nova sociedade, da mesma forma que, há mil anos atrás, coube aos senhores trancar suas filhas e esposas dentro de casa, limitando suas potencialidades. Basta que elas não cometam o mesmo erro.